Super-heróis e essa tal de filosofia

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Por Gelson Weschenfelder
Olha aquele cara de collant colorido ali!!! Olhe, outro pulando de prédios em prédios! Nossa!!! Aquele está lutando com um monstro... Bom, para quem não conhece se espanta com o universo dos Super-Heróis, lógico que é algo fictício, mas muitos estão aprendendo o segredo que era mantido vivo há anos por um grupo de fãs de histórias em quadrinhos, as histórias clássicas dos super-heróis, que continuam ainda hoje sendo apreciadas por um público cada vez mais interessado nestas histórias; ainda mais com a invasão desses super-heróis nas telas.
A cada filme lançado, é uma multidão lotando as salas de cinema; as bancas lotadas de HQ´s (histórias em quadrinhos); e vários produtos sendo comercializados, com estampas destes super-heróis. Mas o que fazem estes caras fantasiados para se tornarem tão populares? O que eles fazem para tornarem tão atraentes?
Um dos mais notáveis desenvolvimentos na cultura pop da atualidade é o forte ressurgimento dos super-heróis como ícone cultural e de entretenimento, mas estas histórias não são tão inocentes como parecem; elas não trazem só o divertimento; se expõe de uma forma perspicaz às questões referentes à ética e moral, que todo ´ser normal` enfrenta em seu dia-a-dia. Estas histórias introduzem e abordam de forma vivida as questões de suma importância enfrentadas pelos seres humanos, as questões referentes à ética, à responsabilidade pessoal e social, à justiça, ao crime e ao castigo, à mente e às emoções humanas, à identidade pessoal, à alma, à noção de destino, ao sentido de nossa vida, ao que pensamos da ciência e da natureza, ao papel da fé na aspereza deste mundo, à importância da amizade, ao significado do amor, à natureza de uma família, às virtudes clássicas como coragem e muitos outros temas. Por isso que muitos se prendem ao universo dos super-heróis e dão grande audiência a este tema. Foram os gregos que foram os primeiros a entender o gera audiência. Segundo o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.), ao experimentar (a trama nas telas ou lendo um HQ`s), sentimentos fortes e acontecimentos trágicos, esperava-se que as pessoas purificassem as próprias emoções; assim faz o espectador/leitor refletir sobre os problemas centrais da condição humana, como a natureza do destino ou conflitos entre compaixão e a justiça.
Imagino que ninguém olhou para as histórias de super-heróis com um olhar filosófico. O quê? Você ainda diz que não tem nada a haver? Pois bem, vamos a alguns exemplos: todos já ouviram falar no super-herói o Homem-Aranha, certo?
Logo após ser picado por uma aranha radioativa (no filme uma aranha geneticamente modificada), dando a Peter Parker o poder no qual ele poderá se transformar em O Homem–Aranha; seu tio Ben, sentindo que há algo de diferente no sobrinho lhe dá o seguinte conselho: “com grande poder, vem grandes responsabilidades”. Após a morte de seu tio Ben, esta frase, Peter Parker levará para o resto de sua vida como O Homem-Aranha. Isso filosoficamente, é o que os filósofos Benthan (1748-1832) e Stuart Mill (1806-1873), chamam de utilitarismo, onde somos obrigados a executar a ação que produz maior bem geral. Isso faz O Homem–Aranha se tornar um herói, salvando vidas, e não usando seus poderes para benefícios próprios. Isso nos mostra que, Peter Parker deverá estar preparado para fazer sacrifícios pessoais para cumprir seus deveres morais. Os utilitaristas não dizem que nós temos o dever de fazer coisas que não podemos, mas sim que, qualquer um que tenha habilidades especiais, deva usá-los para o bem maior.
Mas por que salvar pessoas? Por que correr risco de vida lutando contra vilões em nome de um bem maior? O grande filósofo alemão Kant (1724-1804), nos diz que, nosso dever fundamental é agir de uma maneira que satisfaça o que ele chamava de o Imperativo Categórico, uma formulação que dita que nós sempre devemos tratar as pessoas como fins em si e não como meros meios. Mas Kant, também enfatiza que realizar uma ação de acordo com o imperativo categórico não basta para ela ser boa. Em essência, a ação deve ser feita também pelos motivos certos; ou seja, O Homem–Aranha deve fazê-la justamente por que é o seu dever. Segundo esta interpretação, portanto, as intenções do nosso herói aracnídeo são relevantes ao valor moral do que faz.
Bom, ainda tem como exemplo o mais famoso alienígena das histórias de super-heróis, Kal-El nome kriptoniano ou Clark Kent nome terráqueo, ou ainda como todos o conhecemos, Super-Homem. O que um indivíduo especial, como Kal-El /Clark Kent (Super-Homem), estará fazendo em salvar vidas, ao invés de usar seus poderes a seu benefício, como por exemplo: usar sua grandiosa força, espremendo um carvão até conseguir um diamante. Por que ele se torna um repórter do jornal, o ‘Planeta Diário’? Bom, Kal-El/Clark Kent (Super-Homem), desejaria não se mostrar muito, pois qual seria a reação das pessoas em saber que ele é um extraterrestre, e que poderia derreter um carro com um olhar de raiva. Com certeza a população ficaria amedrontada com este tipo de ser. Por isso Kal-El se esconde atrás de seus óculos, se escondendo na identidade de Clark Kent, sendo um cidadão comum. Kal-El, sabe que ele não é daqui, não pertence a este mundo. Foi criado entre os humanos; mas, na verdade, não é um de nós. Kal-El (Super-Homem) é o único sobrevivente de sua raça. Ele é um extraterrestre, e se sente muito sozinho neste mundo, segurando este grande fardo, o seu grandioso segredo. E aí está à chave de suas atitudes heróicas. O desejo básico de pertencer, de fazer parte, é um aspecto fundamental da natureza humana, nossa necessidade de nos ligarmos aos outros é vital para o nosso bem-estar. Presumo que, mesmo sendo um extraterrestre, Kal-El sente a mesma necessidade básica de comunidade.
Mas Kal-El, não dá as costas à sua herança alienígena, ele sabe que, só quando usa seus dons naturais da raça kriptoniana, é que se sente vivo e engajado. Só quando ele age em seu pleno potencial, em vez de se esconder por trás de um par de óculos, ele participa de verdade do mundo a sua volta. Só quando ele é abertamente kriptoniano (Super-Homem), ele pode ser também um homem da Terra, com exuberância e excelência. Quando ele vive como a pessoa que realmente é, e aplica suas distintas forças a serviço dos outros, ele assume seu lugar justo na comunidade, da qual agora ele faz parte e na qual se sente realizado. Não foi por coincidência que, quando o Aristóteles pretendia descobrir a raiz da felicidade, ele começou a explorar o que é viver com excelência. O Super-Homem, a seu modo, descobriu a mesma relação.
Já os X – men, que são adolescentes mutantes e, por isso mesmo, repugnantes aos humanos normais (como fizemos quando discriminamos alguém), que os temem e os odeiam, tratando – os como animais. Mas ao contrário dos humanos normais, estes jovens mutantes não os odeiam pela discriminação, pelo contrário, lutam em defesas destes. Aristóteles explica esta atitude dos X – men, através da ética das virtudes, onde colocam suas potencialidades para atingir um bem comum.
Bom, os Super-Heróis tem muito a nos dizer, talvez por isso se explique o porquê do sucesso que fazem no cinema, e por que estão a tanto tempo no mercado (Batman tem mais de 70 anos, Super-Homem quase 100 anos). As adaptações para o cinema assim como as HQ´s, nos faz buscar o herói em nosso interior, não para ficar pulando de prédios em prédios ou combatendo o crime; mas fazer um ato heróico que pode salvar nosso dia.